O relato de Rosi de Barros é marcado por momentos de luta, oportunidades, resistência, desigualdades e muitos desafios. Ela nos traz uma análise sobre trabalho, violência, opressão, machismo e racismo. Ela é uma artista no sentido pleno, cheia de luz, energia e potência, que nos desperta para a reflexão, nos provoca admiração e ainda mais desejo de continuar a viver e a lutar por dias tão iluminados quanto ela.
Apresentação - Rosimere Silva de Barros, 32 anos, inicia nossa conversa se apresentando, e explica: “casada não, mas, como se diz, juntado de pé, casado é” (risos). Ela tem três filhos (as gêmeas Pérola e Esmeralda e o caçula Berilo). Ela é carioca, nascida e criada na favela da Maré, de onde saiu aos vinte anos para morar em São Paulo, com o objetivo de dar continuidade a um trabalho realizado com Ivaldo Bertazzo.
A relação com Ivaldo Bertazzo se iniciou dez anos antes, quando Rosi, aos nove anos de idade, começou a dançar em um projeto na favela da Maré, o espetáculo “Mãe Gentil” (2000), que Bertazzo já desenvolvia em São Paulo. Ela recorda que logo depois veio o espetáculo “Folias Guanabaras”, uma continuidade do projeto anterior, seguido do “Dança das Marés”.
Espetáculos que eram muito prestigiados, sempre com casa cheia, e apoios importantes para a realização, como SESC, Petrobrás – (que chegou a dizer que ela deveria ir para o canto), Seu Jorge, Rosi Campos, Zeca Baleiro, o pianista João Carlos Martins, além de outros nomes da arte brasileira. Rosi descreve a participação como de intenso aprendizado, “foi uma escola, esses três anos como bailarina, eu aprendi muito e cresci muito, apesar de ser uma criança”.
Antes de se envolver nos projetos de Bertazzo, a menina já dançava em uma organização social não governamental (ONG) que desenvolvia trabalhos com as crianças na favela da Maré, o CEASM (Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré), criado em 1997, e que oferecia cursos de dança, capoeira, cursinho pré-vestibular, fotografia e outras oportunidades, em parceria com universidades, escolas, sindicatos “que mandavam profissionais ótimos” para a realização das atividades. Rosi também destaca que a vereadora assassinada no Rio de Janeiro, Marielle Franco, também fez parte de sua trajetória: “Marielle era minha catequista, antes de ela ser professora no CEASM, na verdade ela militava lá, acho que essa é a palavra, o CEASM era uma resistência”.
Rosi fazia parte do corpo de dança da Maré, e explica que a parceria com Bertazzo trazia junto consigo o conceito de “cidadãos dançantes”, que destacava a importância da dança na formação do cidadão, estimulando o conhecimento das possibilidades de movimento do próprio corpo.
Outra instituição presente no espaço era o Centro de Cultura da Maré, que hoje é um Museu. Ela recorda que teve aulas sobre teoria da dança com a professora Thereza Rocha, com a professora Silvia Soter, e com a coreógrafa Lia Rodrigues (que levou alguns estudantes para a companhia de dança que ela fundara). A própria Lia Rodrigues ensaiava e constituiu sua companhia (Cia) neste espaço.
Na ocasião em que o Museu completou dez anos (2016) o jornal “O Globo” fez uma reportagem que elucida essas relações nos múltiplos espaços constituídos, e que promovia uma efervescência cultural repleta de oportunidades.
Museu da Maré celebra dez anos com muita história e novos projetos
Referências: a família e a vida na Maré. Sobre sua família, ela conta que o pai era professor, hoje advogado formado (aos 50 anos), foi funcionário público da área de administração do Estado, no Rio de Janeiro, e se aposentou agora, “sempre foi uma grande referência para mim, tanto que me formei professora na mesma escola que ele, fiz magistério”. Ela tem três irmãos, com quem tem uma ótima relação, uma família grande e unida, “meu pai e minha mãe sempre foram muito batalhadores... eu lembro do meu pai dando aulas na varanda de casa, que a gente chama no Rio de explicador/explicadora”, uma referência a quem dá aula de reforço escolar. “Meu pai sempre foi muito rígido e rigoroso, dava aula para os ‘rebeldes’ da comunidade”.
Sobre sua mãe, Rosi explica que ela sempre foi uma referência, era merendeira nas escolas, mas sempre quis ser professora. Estava sempre cuidando dos filhos, era da Pastoral da criança, fazia farinha, paçoca. Inclusive se formou, assim como o pai, recentemente, em razão de projetos e políticas públicas que proporcionaram essa formação. A mãe se formou em Pedagogia em 2019, e o pai terminou os estudos há cinco anos.
Os irmãos são todos artistas, músicos (cavaquinho, violão, teclado, multi-instrumentistas), autodidatas, e seu pai também é músico (tocava instrumentos de corda, violão, guitarra, e era cantor). A música vem de família, pois seu avô paterno, que tocava bandolim, também era um autodidata. Seus avós paternos eram do Morro do Macaco, enquanto os avós maternos eram da Maré. Ao falar sobre a música, Rosi se recorda que a igreja católica foi também um “espaço de crescimento” para a família na comunidade, “e está presente na minha infância toda... frequentávamos a Igreja Nossa Senhora dos Navegantes. Meu pai cantava, ensaiava as crianças. Minha avó queria que meu pai fosse padre, mas ele casou e teve quatro filhos. Ele foi catequista da Marielle [que anos mais tarde foi catequista de Rosi]”.
Questionada sobre as lembranças da infância, ela diz que foi um período marcado por boas referências, mas também por muita violência na comunidade, por amigos que se envolviam com o tráfico e o crime:
“nós víamos pessoas desaparecendo. E a gente sabe muito bem o que significa quando alguém desaparece [...] até a cor da roupa era um problema. Porque existia uma facção que era o Comando Vermelho, então você usar uma roupa vermelha... você está procurando. TCK (Terceiro Comando do Kito) – e tem uma marca de roupa com essa sigla, então se você usa... Eu nunca tive dinheiro para comprar roupas desta marca. De sexta para sábado você acordava e tinha morto no valão, e todo mundo ia ver. Era muito comum, um, dois, três por semana. Depois isso acabou, porque as pessoas começaram a desaparecer. Não são referência boas, mas fazem parte do cotidiano de quem cresceu lá”.
Sobre TCK. Terceiro Comando, conhecido pela sigla TC, foi uma facção criminosa brasileira, surgida para se opor ao Comando Vermelho em 1988, no Rio de Janeiro.
Rosi relembra:
Depois disso veio o caveirão – tanque de guerra blindado. E aí passaram a ter as intervenções militares, a entrada do caveirão na comunidade (lá pelos anos 2000/2002). Meus pais não gostavam de nos deixar na rua, nem ir a baile funk, pagode, nada à noite. Mas ouvíamos a entrada do caveirão, porque as paredes têm ouvido. Nesse sentido a Maré sempre foi um local difícil”
Rosi destaca a importância dos projetos sociais em um cenário em que a “vida nunca foi fácil”, uma referência, principalmente, aos confrontos entre facções no Complexo da Maré e a ação da polícia na área, “cada um querendo dominar espaços”. E completa:
“a gente chamava de guerra, dizia ‘hoje tem guerra’, você não vai para a escola, não vai sair de casa... Toda casa tinha um espaço [bunker] seguro, como aqueles que têm nos EUA para se proteger do tornado, iam para láler quando tinha confronto. Hoje, daqui, vejo que as intervenções militares são de cima para baixo, tem o helicóptero, as escolas também têm esse lugar seguro”.
Em síntese, a vida na Maré é difícil, “tem gente que não quer falar do tráfico, mas isso é uma realidade, mas eu tive a oportunidade de fazer parte de um projeto, fiz vestibulinho no CEASM, tiveram pessoas que trouxeram oportunidades que fizeram grande diferença. Eu não estaria aqui em São Paulo se não tivesse participado do projeto no CEASM, não estaria aqui”. A Maré foi “onde eu cresci, onde tenho minha referência de infância, ela contribui para quem eu sou hoje”.
Rosi sentiu a diferença para melhor, na vida da Maré, a partir da mudança do governo federal nos anos 2000. Antes disso, ela se recorda da mãe na fila: “Minha mãe acordava 4h da manhã para pegar a senha e passar no posto às 7h, que era a hora que meu pai nos deixava na escola e ia para o trabalho”, recorda-se também da ausência completa de médicos, da falta de estrutura mínima em algumas escolas.
Trabalho e estudo. Rosi foi formada, desde a infância, pela educação popular “que se dependesse do sistema não aconteceria. O povo está sempre se virando para fazer acontecer”. E completa:
“O sistema educacional não oferece uma educação interativa, para que jovens e adolescentes não se desviem e escolham o dinheiro rápido na favela. Oportunizar o contato com as diversas linguagens, no contra turno escolar é investir no futuro. Mas sinto que deixaram essa tarefa para nós, moradores. A realidade dura do tráfico é alimentada de fora para dentro, mas a responsabilidade de fazer diferente é dentro para fora. O sistema se abstém, mas investe em armas”.
A dança também faz parte do seu cotidiano desde criança, e quando veio para São Paulo atuou como bailarina e fez vários trabalhos.
Considera-se artista, formada, mas não vive de arte, “é muito difícil viver da arte, eu venho de uma família de artistas, mas não dá para sua família passar fome”. Considera seu trabalho como dançarina na Maré como seu primeiro trabalho na vida, ganhava R$ 300,00 de bolsa-auxílio, quase um salário mínimo à época. Na escola participou de um Projeto da Coca-Cola, que tinha como objetivo ajudar crianças no reforço escolar, e por este trabalho ganhava R$ 100,00 para participar do projeto.
Ainda na escola foi direcionada para um curso de gastronomia gratuito, em Laranjeiras, no Rio de Janeiro (promovido pela PUC), que ela adorou, pois sempre gostou de cozinhar. Era ela quem fazia os bolos de aniversário em casa, as “comidas diferentes”, e se recorda de que sua mãe adorava: “e eu ficava ainda mais feliz porque estava agradando-a”. O curso era completo, e depois de um ano o aluno era direcionado para uma incubadora, espaço onde ela teve a oportunidade de conhecer, circular, e trabalhar na área gastronômica.
Rosi lembra que, nesse movimento de circular pela zona sul em razão das atividades vinculadas ao curso e à incubadora, reencontrou o Ivaldo Bertazzo, que, ao revê-la, perguntou: “o que você está fazendo?”, e ela respondeu “tô cozinhando”. Na época ela já não estava mais tão dedicada à dança, apenas participava de projetos pontuais quando as pessoas se reuniam para alguma apresentação esporádica. O corpo de dança já estava disperso, cada um cuidando da sua vida, da sua família, da sua sobrevivência. E, no caso de Rosi, sua dispersão a levou para o universo gastronômico.
Na ocasião do reencontro na zona sul, Ivaldo Bertazzo estava fazendo uma apresentação no Rio, e a convidou para assistir. Ele mesmo comentou que achava um absurdo ela estar cozinhando. Rosi se recorda que Bertazzo dizia que ela era “a meninas dos olhos dele”. Na época em que dançava na Maré o corpo era composto de 66 bailarinos, e Rosi lembra que se dedicava muito, “a dança era algo que eu amava demais. Eu gostava de cozinhar, mas amava dançar”.
Trabalhava como fornecedora em um restaurante, primeiro emprego registrado, e recorda-se que ganhava R$ 540,00 reais. Na ocasião do encontro com Bertazzo, foi convidada pelo próprio Ivaldo para fazer um teste que aconteceria em São Paulo, e acabou por largar tudo (emprego) e ir para lá. Fez o teste em São Paulo junto com três amigos, mas apenas ela passou a fazer parte da Cia Ivaldo Bertazzo. Recebia um salário de R$ 1.100,00, e morava com os amigos da companhia, que a acolheram.
Trabalhou por dois anos na companhia, quando, em 2008, conheceu o Rafa (Rafael Schiesari, seu companheiro), na ocasião de uma festa na casa de um produtor cultural. Ela lembra que era uma festa em que a companhia de danças da qual ela fazia parte foi convidada, e o Rafa, também produtor, foi à festa. Desde então passaram a se ver com frequência. Quando a Cia encerrou o contrato, Ivaldo Bertazzo fez uma pausa nos trabalhos, e nesse mesmo período, menos de um ano, ela engravidou.
Em 2012, Rosi relata que conseguiu se organizar, cursar faculdade de Pedagogia e voltar a fazer aula, buscar espaços de ação. Ela cursou a faculdade à distância porque já tinha as duas filhas gêmeas, que ainda eram muito pequenas.
Mudança de rumo e considerações sobre ser mulher. Quando ela ficou grávida das meninas foi um susto:
“Ficar grávida bem no momento em que minha carreira tomava novos rumos... Estava em São Paulo, onde poderia dar maiores passos, com novas oportunidades. Daí, mais um susto, saber que eram gêmeas. Eu morria de medo da gestação, do parto, e entrei em pânico pelo fato de serem gêmeas e estar longe da família. Aos poucos fui me acostumando e amando estar grávida”.
Ela e Rafa passaram a morar juntos na Lapa, na casa do pai dele, enquanto organizavam a vida. Na verdade, relembra Rosi, o pensamento era voltar a morar no Rio, uma vez que não teria mais trabalho na Cia, mas foi ficando em São Paulo, inclusive a pedido do Rafa, seu companheiro. Rosi recorda que não foi um período fácil porque ela não trabalhava e estava grávida. Acabaram investindo um dinheiro que não tinham em uma loja de roupas feminina, na Rua 12 de outubro, no bairro onde moravam. Esse foi, segundo ela, o primeiro passo para o distanciamento das artes. Ficaram lá por seis meses ou mais, ela na loja e ele trabalhando de motorista, mesmo não gostando de dirigir. Ela descreve a fase como “muito ruim”, com muitas interferências externas, e um relativo afastamento do casal em razão das dificuldades: ela em casa com as crianças e ele trabalhando longe, e, posteriormente, mais longe ainda, em São Bernardo (mas já de volta à área da Cultura).
Com o nascimento das meninas gêmeas ela não conseguia arrumar emprego, avaliava que não compensava deixar as crianças e ter que pagar alguém para cuidar. Rosi destaca que sempre foi muito independente, desde criança ganhava algo, mesmo morando na casa dos pais, mas se viu em uma situação de completa dependência, o que a angustiava: “com dez anos eu recebia uma bolsa auxílio, então eu sempre tive o meu sem depender, e aí me vi numa situação em que eu tinha duas filhas, morava na casa de alguém e dependia de outro alguém”.
A distância da sua própria família no Rio, que sempre foi seu suporte, pesou bastante e foi muito difícil, o que levou a brigas e desgastes nas relações pessoais de forma generalizada. Há diferenças culturais entre as famílias que pesavam “eu sempre fui de família católica e de cultura africana, sempre esteve em mim, por toda a minha pesquisa artística”, e de repente se via imersa em outras referências familiares, culturais. Eram muitas mudanças em tão pouco tempo, e teve que “se adaptar”:
“... minha gestação foi muito saudável em relação à minha saúde corporal, mas muito complicada na saúde mental. E eu sempre me coloquei muito forte, apesar ter muitos momentos em que ficava abalada. Acredito que tenha aprendido isso, indiretamente, na Maré. Estudar lá na Maré era difícil, tinha toque de recolher, e ainda assim eu estudei, educação formal, dança, culinária... então certamente era uma fase e por isso me mantive forte. Inclusive no parto, que era meu grande desespero, mesmo assim, a doutora me achou muito calma. Milhões de coisas passavam na minha cabeça, eu morria de medo da anestesia, de não conseguir andar, do meu corpo deformar e eu simplesmente me coloquei forte porque sabia que precisava”.
O nascimento das crianças trouxe uma série de reflexões sobre a divisão de tarefas em casa, o cuidado com as crianças: “encarava tudo com tanta naturalidade que só me dei conta de que alguma coisa estava acontecendo quando minha obstetra me encaminhou para a psicóloga”. Disse que Rosi estava passando por depressão pós-parto “uma coisa que nunca senti porque estava sobrecarregada demais para saber”.
Quando ela saiu para trabalhar a primeira vez, após o nascimento das filhas, na favela do Moinho, teve de pagar uma pessoa para olhar as crianças, fazer a limpeza e cuidar da roupa:
“ser mulher foi muito difícil, ser mulher bailarina foi muito marcante, porque tive uma hérnia pós-parto que deformou minha barriga, e ao mesmo tempo eu amava aquele momento, amava ser mãe, mas estava muito preocupada com os rumos da minha vida. Perguntava-me diariamente porque eu estava naquela situação, uma doméstica dependente, se sempre fui dona de mim e independente. E no entorno a família e os amigos eram conforto, me fazendo acreditar que aquela era minha vida, que daquele jeito era correto. Porque a vida é assim, enfim...”
E reforça:
“preciso me dedicar por inteiro, e já não sou só minha...”
Sobre ser uma mulher negra, ela diz que sempre sentiu que precisava se esforçar mais que qualquer pessoa para conquistar algo: “parece óbvio que precisamos batalhar para conquistar, mas eu sinto que sempre tive que fazer muito, eu precisava ser a melhor para ser notada”. Rosi sente que precisa trabalhar muito hoje, mas apenas para manter o necessário. E se questiona:
“por que mesmo com toda a minha experiência, ou tanto trabalho, ainda, sinto que não saio do lugar? Parece que preciso fazer sempre mais. Será que isso é um recorte da segregação? E aí me pergunto, será que é porque sou negra? Na verdade, também costumo pensar que não fiz o suficiente [...] Difícil seria entender, mas porque tantas mulheres negras passam por situação parecida? Será que sou mais uma? Eu tenho magistério, pedagogia, experiência de 20 anos de dança. Tenho curso de gastronomia e algumas experiências. Mas tenho dificuldade de me estabilizar profissionalmente. Será que não tive foco? Ou será que tive que me adaptar [...]?”.
Empreendedorismo. Após sua segunda gestação, os trabalhos na área de artes foram muito reduzidos, especialmente a partir de 2016. Ela gosta de frisar essa data porque antes desse período de mudança política ela conseguia dar aulas de danças em projetos de contra turno escolar, que acabaram quando a gestão municipal de São Bernardo mudou, eliminando muitas das ações do Tempo de Escola.
Como ela tinha três filhos e os custos para pagar uma pessoa eram altos, trabalhar em ações pontuais, de baixa remuneração, não valia a pena, pois apenas trocaria sua mão de obra por outra. Para não ficar sem renda alguma, ela começou a fazer empadas e brigadeiros gourmet para pequenos eventos e reuniões. A primeira encomenda foi de um curso promovido pelo SENAC, que acontecia na antiga Casa do Hip Hop: os alunos ficavam o dia todo lá e ela levava alguns produtos para vender. Não satisfeita com essa renda, decidiu entrar para o mercado de reeducação alimentar oferecendo marmitas congeladas de até 500g, sendo sua sogra uma das primeiras clientes. Em seguida criou uma página na rede social e divulgava seus produtos em grupos “só de minas”, ocasião em que encontrou sua primeira cliente low carb, que foi sua inspiração para a criação de um cardápio fitness. Desde então ela entrou no mercado e utiliza a rede social como meio de divulgação.
Pensando em melhorar a visibilidade e o crescimento do seu trabalho, resolveu investir em uma loja física para atender os clientes pessoalmente, pois imaginou que apenas as marmitas não trariam o retorno necessário para arcar com as despesas de aluguel. Rosi abriu um negócio na Vila São Pedro, em São Bernardo do Campo: uma hamburgueria artesanal, mas continua a fazer marmitas congeladas para vender. O produto escolhido estava em alta e não tinha na região onde morava, e se tratava de um lanche que ela mesma fazia para os filhos, aos domingos, em casa.
Sobre o trabalho atual ela comenta que
“está sendo um desafio porque percebi que necessita de muita logística com as crianças, assim como num emprego formal. O trabalho irá completar um ano em abril. Meu desafio atual é cumprir uma meta que eu consiga manter as despesas do espaço e manter as minhas próprias [...] neste momento estamos no mercado buscando estratégias que alavanquem esses dois negócios: as marmitas e a hamburgueria, mas mantemos os doces e as empadas por encomenda. Já foram mais de 1.000 marmitas vendidas e sempre muito elogiadas. Temos clientes com paladar exigente, que residem nos diversos bairros da capital. Os hambúrgueres tornaram-se atração diferenciada no bairro e por isso temos uma grande clientela no balcão. Nosso espaço é aquele local que o casal vai frequentar justamente para agradar, como eles mesmo dizem ‘lanche top’. Somos reconhecidos por todos que já experimentaram meu produto, fomos até convidados para levar hambúrguer a uma festa. E estamos trabalhando para entrar nesse mercado. Dedico-me praticamente o dia inteiro. Tenho projetos que gostaria de desenvolver, mas na prática as possibilidades de dedicação são outras”.
Hoje, sobre sua própria trajetória, elabora a seguinte reflexão:
“Sinto que, apesar de me adaptar, sempre conquistei minhas ideias, então eu quis ser bailarina e fui, quis ser cozinheira, e fui, então voltei a ser bailarina, e fui, depois dediquei-me a educação e fui uma educadora reconhecida, então quis desenvolver um trabalho autoral na dança e desenvolvi, quis ser empreendedora e estou com meu comércio. A vida é feita de escolhas, apesar das dificuldades na caminhada. O interessante é ter conseguido ser tudo que escolhi e todas as escolhas foram aclamadas e reconhecidas. Então eu fui e estou sendo a melhor de mim [...] Rever minha história [nesta entrevista] me faz pensar em como a sociedade tem forçado a gente a se adaptar por suas necessidades, muitas vezes para ser aceito, reconhecido ou visto."